sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ser homem




O que é ser homem? É ter uma vasta lista de mulheres que você levou pra cama? É mostrar a todos que você tem força pra derrubar outro homem? Os homens mais nobres são aqueles que não precisam de listas de conquistas, são aqueles que fazem uma mulher se sentir protegida pelos seus braços confortantes, não são aqueles que derrubam homens, mas aqueles que estendem a mão para levantar um ser humano quando ele precisa. Ser homem está longe de qualquer convenção dessa sociedade hipócrita e inútil na produção de qualquer conceito que tente fazer um mundo mais justo. Já vi homens adultos agirem como meninos e já vi meninos agindo como adultos. Já vi um homem traindo a sua esposa inúmeras vezes e agindo como um covarde, e um menino de 12 anos cuidando da casa como um pai de família. Danem-se as convenções de que homem só precisa praticar esportes e sufocar qualquer sentimentalismo que existe no seu peito. Danem-se os discursos sexistas de que os homens são superiores às mulheres. Se elas fossem inferiores se acovardariam de dar a luz e nós homens nem ao menos existiríamos. Danem-se os preconceitos de que homem que é homem tem que estar com uma mulher ao lado para mostrar a sua masculinidade. Cansei de ver homossexuais tendo atitudes mais nobres que as de muitos homens com um casamento de vários anos no currículo. Ser homem não é honrar o que lhe cresce por entre as pernas. É honrar o fato de Deus ter-lhe dado a responsabilidade de cuidar do mundo. Ser homem é saber fazer o correto. É chorar quando se tem vontade e é admitir que está errado quando alguém lhe diz. Ser homem não é seguir os conceitos que a natureza "lhe impôs". É honrar o nome que a sua mãe te deu. E ser muito mais que um Pedro, Francisco, Jorge, Alfredo ou Henrique que for. É ser humilde e perceber que somos todos iguais, homens e mulheres. Sem submissões e inferioridades. Sem querer ter a voz grossa e cuspir no chão para se mostrar másculo. Isso é ser homem! E isso poucos homens são.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Amar é como andar de bicicleta

Amar é como andar de bicicleta. Parece confuso, mas é muito fácil. Você pode aprender em qualquer época da vida e não importa com quantos anos esteja. Existe um momento para cada um, e tudo o que precisamos é ter coragem e alguém que nos dê uma mãozinha, aquela pessoa que nos impulsiona a aprender. O problema é que existem pessoas que ao levar o primeiro tombo ficam com medo e não andam novamente. Porém cada um aprende de um jeito. Uns conseguem andar na primeira tentativa, outros caem muito até que finalmente aprendem. E existem aqueles que crescem e escondem a vergonha de não terem aprendido, talvez por medo de cair e se machucar muito. Tudo o que devemos fazer é apenas olhar para frente e seguir. Sem se preocupar com que está ao nosso redor. Até que cada pedalada nos vai fazendo manter ainda mais o que equilíbrio. E quando menos esperamos, já estamos correndo, dando curvas e guiando sem as mãos. Mesmo que às vezes ainda possamos cair por uma simples distração, basta se levantar e andar novamente. E não importa quanto tempo você fique sem praticar. Quando você anda de novo, sente toda aquela sensação como a da última vez. Porque quando você aprende a andar de bicicleta, não se esquece jamais.

Abrigo


Há ainda uma certa dúvida que me assola, a de como Olavo rejeitou tudo o que lhe foi dado. Ele foi o meu amigo de infância. Mesmo que, quando éramos pequenos, não desse conta disso. Olavo nasceu com uma doença que o afastara da realidade. Não era necessariamente louco. Eu o achava muito mais normal que eu até. Vivia no seu próprio mundo, longe dos homens e de suas palavras. Cantava o dia inteiro, era amigo de suas bolinhas de gude, olhava pra tudo como se fosse cego. O seu ponto fixo era a sua própria mente. Vivia como uma roupa do lado contrário.Éramos melhores amigos. Embora eu sempre ouvisse seus pensamentos aleatórios, podia entender um pouco de sua alma e me encontrasse algumas vezes nele. Talvez fosse isso o algo que nos ligava. A idéia de estar perto de alguém que apenas me ouvia e não me olhava de forma indiferente era sempre confortadora.O tempo passou e crescemos. A ciência evoluiu assim como a vida financeira de seus pais. Isso fez com que sua mãe investisse cada vez mais em seu tratamento. Até que então surgiu uma novidade que assustou a todos: a possível cura da doença de Olavo. Rapidamente eles fizeram as malas para buscá-la e só voltaram 2 anos depois. Foi numa tarde de primavera. As crianças estavam brincando na rua, mamãe lavando a varanda, papai limpando o carro com o aspirador e meu avô num lugar qualquer matando-se com uma garrafa de cachaça. Um carro de vidros fume parou em frente a casa do meu velho amigo. Dele saiu sua mãe, ela estava bonita e com um sorriso lindo. Depois seu pai, que desceu do veículo de costas pegando as malas. Até que uma mão branca e magra estendeu uma bolsa de couro até ele. Fiquei tão surpreso quando vi que era Olavo que eu até me engasguei com o chiclete que mascava e acabei o engolindo. Ele saiu do carro, olhou pra tudo ao seu redor, inclusive para mim, e suspirou.A noite chegou e todos esperavam o tão novo ser normal num jantar regado a carne e cerveja. Olavo parado estava e no canto ficou. Encontrando assim um amigo. O estranho foi ouvir dele que parecia que nos conhecíamos há anos. Mas o que me deu alegria, foi o seu abraço, que se repetiria muitas vezes.Olavo foi matriculado em tudo o que seus pais achavam necessário a sua vida: escola, natação, cursos de idiomas e algo mais que não me lembro. Aprendeu a andar de bicicleta, ganhou um computador, vídeo game e todo tipo de engenhoca moderna. Olavo era de uma série anterior a minha. Fora alfabetizado nos Estados Unidos pela mãe. Na escola, ele ia com as melhores roupas, tinha os melhores tênis, chegava de carro importado e tinha tudo o que um jovem precisava ter pra ser feliz. Ou quase tudo.Ele não falava muito. Pensei que fosse pelo fato de estar achando tudo muito novo. Os meses se passaram, ele não fez amigos e nem ao menos sorria pras pessoas. Eu era o único com quem Olavo conversava desde quando se curou até a adolescência. Nela então, já havia se tornado um rapaz totalmente anti-social. Seus pais o levaram ao psicólogo e atenderam a todos os conselhos que ele os dera. Se Olavo ficava triste por não ter amigos, seus pais arrumavam amigos pra ele. Se ficava entediado, seus pais faziam uma festa. Se ele se revoltava, seus lhe pais lhe davam carinho aos invés de tapas. E nada disso foi o suficiente.O pai de Olavo havia feito tudo o que podia para torná-lo um rapaz saudável. O fez praticar muitos esportes, e se Olavo não gostasse de futebol, ele o levava a um jogo de vôlei, mas nada adiantou. Até que então, deixaram ele mesmo decidir pelo seu próprio lazer, escolher seus próprios amigos e ser tudo o que quisesse. Sendo assim, Olavo desfrutou de sua liberdade e comprou alguns livros. Passava horas lendo poesia e romances. E quando eu o perguntava se ele estava satisfeito, me respondia que não.Os livros não lhe eram suficientes na sua busca pelo prazer. Olavo então decidiu ouvir música. Comprou muitos CDs e mergulhou em todos os estilos musicais procurando o seu. Até que descobriu que não era um cara musical.Decidiu virar cinéfilo. Alugou todos os filmes que queria ver e nem ao menos conseguiu se entreter com nenhum deles. Se entregou ao sexo, experimentou homens e mulheres e nenhum toque o fez suar pela alma.Andou no mundo, abraçou os povos, cultura, vida e poesia de cada um. Explorou a fé dos homens. Foi à igreja, ao centro de candomblé, a um mosteiro, praticou a cabala, o budismo, leu o alcorão. Acreditou em um Deus, em muitos, até que em mais nenhum. Casou-se com uma mulher linda e nem ao menos conseguiu se apaixonar. Teve dois filhos, um menino e uma menina, e não sorriu ao vê-los nascer.Conheceu os afortunados, a futilidade de madames e a crueldade dos magnatas. Não encontrou esperança nem no verde do dinheiro. Saiu do centro e morou na margem do mundo. Começou bebendo, tomava porres tão fortes que ficava em coma alcoolico. Usou maconha, cocaína e sorriu por alguns dias. Até que o efeito passasse, seus olhos voltassem ao estado de óbito e seu corpo se desprendesse de qualquer vício. Abraçou mendigos e marafonas, beijou o asfalto em noites de violência. Perdeu seu nome, alguns dentes e a liberdade. Até que voltou para casa.Matou-se exatamente no dia em que seus pais comemoravam o seu despertar do mundo vazio em que vivia. Por mais que eu fosse seu amigo, nunca o perguntei o que procurava. Porém acho que tive um pouco de noção ao ler o que ele escreveu no bilhete que deixou depois de dar um tiro na própria boca.O bilhete dizia: “Eu só queria voltar pro meu abrigo”.
FIM